Sunday, March 25, 2007

Bom dia Poesia! Já lá vão uns dias que não nos cruzamos numa qualquer esquina da vida...mas hoje matámos as saudades em linhas espremidas do néctar duma alma molestada em sons de guitarras sem dono, mas com fé nos dedos de Sid Keith em:
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Olho em volta
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Estou aqui, não sei bem onde, nem bem como,
Olho em volta, nada, ou talvez a soma de tudo,
Escuro, terei os olhos abertos? Não, mas vejo-me,
Disforme, submerso em lençóis já amarelados,
Pregados à cal da pele conforme fados adiados
Com o desligar do despertador, só mais hoje, prometo,
Vezes sem fim, pelo ontem que nunca valerá o que já valeu,
Porque o que valeu de nada valeu e do que vale o que valerá?
O mesmo que o amanhã, porque já não o distingo do ontem
Do hoje, do agora, do daqui a nada, do há pouco…
Olho em volta, tudo, ou talvez a soma do nada,
Escuro, estou de olhos abertos! Sim, vejo-te,
Como nem em sonhos te sonhei nos sonhos que não sonhei,
Submersa no meu peito, enraizada, inspirando minha expiração,
Expirando minha inspiração, desnaturada, dispersa sem leito,
Mas tão mais minha do que alguma vez eu fui meu, serei teu?
Serei eu no teu peito? Levanto-me, tu gemes, inspiras fundo
Como que procurando meu cheiro, sugas-me, caio no vazio,
Sou teu! Embalo-me em ti! Embrulho-me em ti e ofereço-me,
Por inteiro, não me quero de volta, sou teu e eu em ti! Deixo-te!
Violada pelo teu suor carnívoro, sedenta carne, olhar despido…
Olho em volta, procuro-me! Sem restos de sombra e gestos de luz,
Nada vejo, ou vejo o nada? O nada que eu sou, ou o que eu sou em nada?
Apalpo na escuridão e sinto-me apalpado, terei sido eu? Larga-me!
Sou meu! Deixa-me para mim! Deixa-me sentir-me! Eu deixo!
Olho em volta, eu, ou talvez a soma de mim,
Luz, estou de olhos fechados! Sim, vejo-me,
Só, submerso no meu peito, de pé, amordaçando a mudez da pele,
Expirando-me em cada inspiração, inspirando-me na minha expiração,
A nu, confesso o meu corpo ao corpo que encarnei, qual o meu?
Ajoelho-me, beijo os meus pés, peço-me perdão, não concedo…

:::samantar mohi:::